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SXSW: Cinco macro tendências de comportamento

Por Mayte Carvalho – Innovation Leader @ ACE Córtex

O SXSW – South by Southwest é um festival de inovação, música, tecnologia e cinema que acontece todo ano (há pelo menos 32 anos) na cidade hipster Austin, no Texas. Durante 10 dias a cidade que é considerada a capital da música dos Estados Unidos recebe CEOs, CMOs, CIOs, publicitários, artistas, cineastas, investidores, músicos e tribos entusiastas de inovação e cultura.

Essa é a minha segunda vez no festival, fui no ano passado para fazer um pitch na categoria early stage e desta vez fui para consumir o conteúdo do festival mesmo – a melhor definição de FOMO (fear of missing out) que eu já vi. Tudo acontece ao mesmo tempo e agora: palestra com os fundadores do Instagram, com a Zoe Saldana, show do Tom Morell… Por isso, é muito importante fazer uma pré-curadoria do que você quer assistir – ou aproveitar e entrar no “flow”e se deixar levar pela fluidez do festival e decidir arriscar.

Cultura e lifestyle

A minha curadoria neste ano foi mais em soft skills do que em deep tech, o que surpreendentemente foi o tom do festival como um todo. Mesmo as palestras mais “hard skills” – blockchain, AI, Machine Learning -, todas acabaram tendo como fio condutor relações humanas e comportamentais.

O espírito é de que o deslumbramento com os buzzwords tecnológicos passou e o que restou foi uma visão crítica e reflexiva sobre a tecnologia e como isto impacta na nossa vida – desde questionar automação dos trabalhos pelas máquinas e uma possível renda básica universal,  a até mesmo a regulamentação do uso de dados pelos oligopólios tech. Separei aqui para dividir com vocês cinco macro-temas que me chamaram a atenção e emergiram em diferentes keynotes:

1 – Cultura é o seu business plan

Chief Culture Officer foi uma das sugestões de cargo para fazer par com os CEOs  dos novos tempos. Cultura organizacional foi pauta em diversas palestras, tratamento humano entre corporações, relação cliente-empresa e, acima de tudo, empatia no tratamento com colaboradores, consumidores e fornecedores. Separei alguns quotes que mostram bem isso:

“O mundo não está pronto para discutir o que acontece no Silicon Valley. Não importa a diversidade se o ambiente interno não está preparado para conviver com ela.” – Susan Fowler, ex engenheira de software do Uber que denunciou o CEO por assédio e hoje é atual editora do New York Times.

“Não existem negócios B2B ou B2C São todos H2. B- Business C-Consumer H-Humans.” – Chip Conley, conselheiro do Airbnb.

“Empatia tornou-se um fator de inovação e receita, um ponto de diferenciação para os produtos, serviços, contratação e experiências.” – Rohit Bhargava, especialista em marketing e inovação.

>> Leia mais: Startups e Cultura Organizacional

2 – Vulnerabilidade como potência

Em uma era de excessos de informações, assumirmos que não sabemos o que não sabemos é premissa e ponto de partida para que possamos crescer profissionalmente e pessoalmente.

“Eu não sei o que não sei. Precisamos de líderes mais vulneráveis.” – Gwyneth Paltrow, atriz e CEO da Goop.

“Estamos na era do All Knowing, todos sabem sobre tudo. Precisamos exercitar o “eu não sei” – Brené Brown, professora e pesquisadora.

3 – Política como lifestyle

Da palestra do Howard Schultz, fundador do Starbucks (que soltou a pérola “não governaremos nosso país pelo twitter, #ficaadica”), até a da congresswoman Alexandria Ocasio Cortez, as polarizações e discussões sobre plataformas de governo, ideologias partidárias e voto permeou as agendas do Convention Center.

“Não tento convencer as pessoas que têm opiniões diferentes da minha. Faço perguntas e explico calmamente por que acredito naquilo. Depois, a pessoa vai pensar sobre o que eu falei. Se você entra na conversa armado, o interlocutor não ouve o que você tem a dizer. É preciso também deixar que a pessoa tenha uma ponte para voltar quando mudar de ideia. Se você diz que ela é racista, força-a a dizer que não é. E não há uma ponte para ela voltar atrás em seu pensamento.” Alexandria Ocasio Cortez, congressista e ativista americana.

4 – Cannabiz

Pela primeira vez em 32 anos de festival o SXSW acrescentou uma Track chamada CANNABUSINESS, com curadoria que contemplou desde CEOs da indústria cannabica até pesquisadores e historiadores. Cannabis e startups, data, bem estar, alimentos são alguns exemplos de verticais abordados. Estamos falando de uma indústria com um mercado total 9.2 bilhões de dólares (legalmente falando, claro).

Envelopada com um viés medicinal (procure o seu médico!), e prometendo curar de câncer a acne no rosto, a indústria começa um trabalho de desmistificar e trazer repertório para o consumidor – vê-se um movimento de Market Development, como se as marcas estivessem construindo uma categoria e não o seu próprio branding. Awareness sobre o uso vem antes de taglines e logo.  Adam Bierman, fundador da MedMen o maior varejista de cannabis dos Estados Unidos e palestrante do festival afirmou que 71% do consumo em suas lojas é com o objetivo wellness. Quando teremos nosso canna unicorn? Em breve.

5 – Meus dados, minhas regras

Muito se discutiu sobre a responsabilidade de meta-dados e comercialização dos mesmos por gigantes como Google e Facebook, bandeira levantada pela senadora Warren que, inclusive, está promovendo um projeto de lei que endereça apenas este assunto, inspirado no GDPR da União Europeia.

“O Facebook é uma empresa de mídia que se apresenta como uma plataforma e não publisher. Não deveria ser legal empresas venderem nossos dados sem nossa permissão. Precisamos conversar sobre isso. Acho ótimo se alguém discorda do que penso, mas precisamos ter esta conversa.” –  Roger McNamee, mentor de Zuckerberg e autor do livro Zucked.

Quem puder ir ao festival, vá! Neste ano a delegação brasileira foi a maior de todas (após a delegação americana, claro) com mais de 1.600 brasileiros em Austin. A Casa Brasil contou com palestras sobre empreendedorismo, investimento anjo e show case de startups brasileiras.

De política aos dados ao empreendedorismo canábico, e a relevância de pessoas e cultura como um todo, levo comigo epifanias e descobertas pessoais e profissionais que ficarão para uma vida.

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26 de julho de 2024 – São Paulo