O Google tem uma série de programas globais de relacionamento com entidades do ecossistema de startups. Até há pouco tempo, haviam várias marcas para estes programas – que foram unificados em um só: Google For Startups.
A ACE é parceira exclusiva do Google no Brasil desde 2018, e foi uma das 10 primeiras integrantes do Google Launchpad (agora também Google for Startups), programa dedicado a aceleradoras e fundos de VC (venture capital).
Os então 26 parceiros globais se reuniram em Londres para o Launchpad Summit, o último evento com essa marca – a partir de agora, são 75+ parceiros ao redor do mundo (e a ACE segue sendo a única no BR :D).
Aprendemos muita coisa sobre os ecossistemas e a operação dos mais diversos países, e acho que vale compartilhar um pouco do que vi de mais interessante:
O ecossistema brasileiro é evoluído
Sempre comparamos o ecossistema de startups brasileiro com lugares mais evoluídos, como o Vale do Silício, ou Israel, ou até China. É uma comparação que nos deixa “no chinelo” e faz surgir o bom e velho pensamento da “síndrome de vira-lata”.
Entretanto, sob uma perspectiva maior, o Brasil tem sim um ecossistema bem desenvolvido de startups, especialmente em algumas regiões.
Temos no País entidades de apoio a empreendedores iniciantes (Sebrae, Startup Weekend’s, meetups, iniciativas municipais e estaduais como SP Stars e StartupSC), há incubadoras e aceleradoras (Farm, Darwin, Wow, etc), há grupos de anjos (Anjos do Brasil, GV Angels) há fundos de venture capital (ACE, Canary, Monashees, Kaszek, outros), há escolas tradicionais e não-tradicionais para formação de talentos (universidades, Gama Academy, Le Wagon). Enfim.
E mais do que agentes, há tempo de experiência para termos certeza de que existe uma certa maturidade na execução destes. Conversando com líderes de players de outros países, consigo ver claramente como alguns deles estão alguns anos atrás.
De Porto Rico e Colômbia, que estão se afirmando também como economias, mas também Suécia e Portugal, que ainda não têm muitos cases de sucesso com startups e não fizeram a “roda de founders e talentos” girar o suficiente para produzir grande massa crítica, e Sérvia e Indonésia, que estão bem no início do ecossistema de apoio.
Tech first
Enquanto no Brasil ainda temos deficiência de desenvolvedores e muitos empreendedores com o lado business bem desenvolvido, há países como Sérvia, Índia e Estônia onde a grande massa de profissionais tem origem técnica (Engenharia, Matemática, Ciências) ou tecnológica – ou seja, abundância de CTOs e devs.
Estes países precisam incentivar os talentos tech a serem mais empreendedores, ou então abrir suas fronteiras para que empresas consigam fazer uso da sua mão de obra. A Startup Wise Guys (Estônia e Bálcãs) tem seleção internacional como critério de escolha, e já juntou founders de Brasil e Portugal que tinham aplicado com businesses similares em um único negócio.
Don’t take it for granted
Embora um país em desenvolvimento, já temos muitos benefícios no Brasil que precisamos levar em consideração, tanto em termos de infraestrutura quanto de desenvolvimento do ecossistema.
Na Índia, alguns negócios demoram a ir para frente pela baixa penetração de internet em algumas zonas urbanas mal-atendidas.
Na Nigéria, por exemplo, a Venture Garden precisa custear as passagens, hospedagens e até vistos para que empreendedores consigam trabalhar com eles. Em Gana, a MEST faz trabalho similar: são os únicos players que ajudam a região Norte da África.
Enquanto isso, a Banj é um dos únicos pólos de ajuda a empreendedores no Haiti, mas ficou um par de meses sem operar depois que um dos protestos/levantes populares destruiu todos os equipamentos da aceleradora.
Interferência governamental
Alguns governos locais têm feito um trabalho interessante para fomentar o empreendedorismo.
A Estônia criou um visto global para quem trabalha com tecnologia, enquanto Portugal tem feito um esforço de marketing estratégico muito forte para se colocar como pólo de empreendedorismo, trazendo desde o Websummit (um dos maiores eventos globais) até incentivando “na base”, mas ainda é bem incipiente.
A África do Sul colocou uma das medidas que eu acho mais poderosas: o governo criou uma lei que obriga que as corporações tenham no mínimo 30% de suas compras feitas com fornecedores que sejam startups. As empresas ainda estão se adequando, mas creio eu que não há um melhor incentivo para startups (especialmente B2B) do que este.
O que ensinamos e aprendemos
Durante o Launchpad Summit, além de conhecer sobre culturas e ecossistemas diferentes, mergulhamos com profundidade em três tópicos:
Aqui, vou deixar minha modéstia de lado e afirmar com certeza: a ACE é globalmente um dos players mais evoluídos nos três temas (originação, operação e modelo). Conseguimos aprender bastante com outras entidades também, mas notoriamente temos um jogo world-class em nossas mãos.
Operações: basicamente, como trabalhar com as startups. Acompanhamento, métricas, cohorts, mentores, conteúdo, parceiros, frameworks, comunidade, fundraising, conexões com corporações e muito mais táticas para fazer com que os seus investidos ou acelerados tenham a melhor performance.
Depois de 7 anos entre aceleração, investimento de venture capital, trabalho com squads e conexão entre startups e corporações, a ACE criou uma série de processos, frameworks e modelos que se tornaram referência para outros partners do Launchpad – além, é claro, da digitalização e democratização de todos estes para empreendedores de todo o mundo por meio da Growthaholics for Startups.
Modelos de Negócio: como uma empresa no nosso mercado ganha dinheiro: vimos desde modelos com patrocínio (Digitaraya, Indonésia), consultoria, mídia (Startit, Sérvia), investimento-por-equity (P18, Porto Rico), dealflow para fundos VC proprietários (Indico Capital, Portugal, e Wellstreet Ventures, Suécia), parceria com universidades (DMZ, Canadá), empresas e até governos.
Cada player tem um modelo distinto do outro, e a sensação que tive foi que a própria ACE já havia testado uma série destes modelos até encontrar o atual (duas unidades de negócio, uma consultoria hands-on de inovação e uma empresa de Venture Capital que investe no Seed Stage).
Originação: a busca eterna pelos melhores founders foi o último tema, indo desde como e em quais portas bater, como formar startups a partir de mercados e negócios estabelecidos, até o processo de seleção, filtragem e due diligence, para garantir que você tem em mãos uma startup com bom time, com problema e produto validados, modelo repetível e escalável em um mercado gigante.
Abrimos parte do nosso Algoritmo de Seleção, que leva em consideração 40+ variáveis para cuspir uma recomendação (entre Investir, Acompanhar ou Não Investir). Comentamos sobre o rigoroso processo ACE de Fluxo de Investimento, que leva em conta entrevistas com founders, clientes e especialistas e uma diligente desk research para compor uma análise detalhada do mercado, produto, time e diversos outros pontos de cada startup para termos certeza de cada aporte ou conexão. Depois de mais de 20 mil empresas analisadas, dominamos o processo.
Enfim...
Aprendemos muito também com os players globais e com o próprio time do Google (que é super parceiro, aliás) – alguns desses aprendizados e parcerias feitas durante o Launchpad Summit terão reflexo direto já em curto prazo para a ACE, e por consequência para o ecossistema.
Em resumo, foi um Summit engrandecedor. Estou animado para os próximos passos, e desde já ansioso para a edição 2021 – com 75+ parceiros.