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Setor agrícola: pontos para ficar de olho

Quero começar esta breve conversa me apresentando. Sou investidora em tecnologia desde 2013 e, recentemente, o grupo do qual sou uma das fundadoras, Verus Group, avançou para se tornar a GR8 Ventures, uma empresa de investimentos em tecnologia. Porém, se há algo constante em minha vida é que sempre fui conectada ao setor agrícola agrícola, através de uma história familiar iniciada no começo do século XX, e que continua hoje comigo.

A intersecção desses dois papéis, de produtora agrícola e de investidora em tecnologia, me permite analisar o investimento no agro por um ângulo diferente da maioria. Certamente da perspectiva de quem suja a botina para produzir e que lida com vários obstáculos e desafios do agronegócio brasileiro, mas que também entende a impressionante evolução que a tecnologia e o conhecimento aplicado têm trazido e podem continuar a trazer ao agro brasileiro e mundial.

Transformações no setor agrícola

Destaco aqui minha visão sobre alguns pontos-chave no setor agrícola que entendo que valem a reflexão. O primeiro item é que a produção agrícola é uma atividade de margem baixa e alta eficiência operacional. Por isso, seletividade na tomada de decisões com relação a tecnologias é uma palavra de ordem no setor, pois o produtor não tem condições de adquirir vários serviços e/ou produtos, visto a baixa margem de rentabilidade. A produção agrícola exige muita disciplina e especialização. Tanto em termos de planejamento financeiro e de insumos, assim como grande eficiência na execução das operações no campo, visando alta produtividade.

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Penso que é também uma atividade de alto risco, pois as intempéries climáticas (cada dia mais presentes), ataques de pragas, incêndios e outros podem acabar com plantações facilmente. Os softwares de gestão e acompanhamento agrícola, plataformas de manejo de pragas e similares podem auxiliar muito na redução de riscos de todo o tipo. Porém, no fim do dia a seletividade e visão gerencial irão se impor nas decisões de quais ferramentas é possível adotar.

O segundo ponto é a dificuldade em montar uma máquina de vendas no agronegócio. As grandes extensões territoriais, a distância entre polos de produção, a importância do contato pessoal e o conservadorismo de muitos produtores, entre outros, trazem grandes desafios para a venda em escala de forma eficiente. Esse é um ponto que muitas agritechs acabam deixando de lado e, as vezes, propostas interessantes não se viabilizam por falta de uma estrutura comercial adequada. Como chegar até o produtor?

Um terceiro tópico é a importância de entender as limitações de nossa infraestrutura. Infelizmente, a conectividade ainda é uma dificuldade dentro do próprio estado de São Paulo, que tem a melhor infraestrutura do pais. Imaginem os desafios de conexão em regiões mais distantes!

Um quarto tema é a mudança de geração em curso no setor. Hoje, a nova geração de produtores está cada dia mais presente nos negócios. Uma boa parte dela formada em faculdades de qualidade e com interesse em adotar novas tecnologias. Há também uma presença feminina cada vez maior, da qual faço parte. Creio que entender esse novo perfil de produtor é fundamental para qualquer agritech.

Setor agrícola no mundo

Por fim, e não menos relevante, é a importância do conceito ESG (ambiente, social, governança) aplicado na produção agrícola. Poderia comentar longamente a respeito, mas, de forma sumaria, a questão é que para uma propriedade rural ser sustentável, ela deve fazer parte de uma visão de longo prazo do negócio. Em tal visão, o meio-ambiente precisa ser respeitado e cuidado. Os funcionários devem ter seus direitos e deveres adequadamente considerados (e aqui o conceito de participação nos resultados deve ser levado em conta). E a governança do negócio precisa estar sempre presente.

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Em resumo, no panorama atual da evolução agrícola acelerada, o produtor rural cada dia mais caminha para se tornar um empresário agrícola. Principalmente com foco na gestão do negócio como um todo e no retorno do investimento. As agritechs certamente farão parte dessa evolução de forma crescente!

*escrito por Fernanda Gottardi, sócia-fundadora da GR8 Ventures e produtora rural

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