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É hora de parar com o teatro da inovação

Falar que eu sou apaixonado por desenhar projetos e programas de inovação para grandes empresas é chover no molhado. Afinal, se eu não gostasse, não o faria. E grande parte desse meu ímpeto quase espiritual quando sento para modelar um programa a quatro mãos vem do fato de eu já ter vivido do outro lado do balcão.

Durante quase uma década trabalhando no mercado financeiro, sofri na pele a dificuldade de transitar uma ideia nova dentro de uma grande corporação. Então, digamos que, quando uma equipe de inovação me procura para discutir uma ideia de ação inovadora, eu os vejo quase como brothers-in-arms. Eu conheço bem a dor e a diversão envolvida no processo.

E meu primeiro conselho (no caso, um conselho travestido de pergunta) é: “estão confortáveis em parar de fazer e ler PowerPoints?”

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Nenhuma equipe ou encarregado de inovação chega aqui sem ter feito a lição de casa. Ninguém vai para uma reunião sem alguma noção pelo menos dos jargões da indústria. Mas você já parou e colocou na balança quanto tempo gastou com análises e apresentações e quanto tempo usou para efetivamente fazer algo?

Eu corro o risco de soar repetitivo nesse post, mas assimilar a “cultura do erro” barato e rápido segue sendo o maior tabu das grandes empresas. E, até mudar, suas ações serão estéreis… se acontecerem.

Ideias que viram ações

Quando eu escrevo um texto aqui, não quero receber feedbacks e elogios. Assim como também não quero que ele seja meramente encaminhado para seu Diretor de Inovação ou outros membros do board. Tampouco tenho a necessidade de ter o ego massageado e saber que meu texto virou um PowerPoint para a reunião semanal.

Eu quero saber que ele virou ação! E que ela pode não dar certo, mas alguém meteu o pé na porta e se mexeu.

Eu posso passar meses enviando relatórios e estudos sobre como a indústria está se movendo, sobre como uma startup de Israel surgiu com uma incrível nova tecnologia para irrigação de fazendas no deserto, sobre como os carros autônomos vão impactar o mercado de fast food (sim, é real!) e o que o Burger King está fazendo a respeito.

Eu posso e vou continuar escrevendo sobre tudo isso (faz parte do meu job description). Mas quem está levando para frente todas essas ações são ELES e não VOCÊ.

Por que é urgente começar um programa de inovação?

Quer entender o grau de urgência de começar hoje o seu programa de inovação? Veja esse gráfico de quanto custa abrir uma startup de tecnologia dos anos 2000 até 2011.

cost of launching a startup
E que tal o tempo de vida médio de uma empresa do S&P500?

 

death of S&P 500
 

Você pode enviar essa imagens para o email [email protected], você pode estampa-lo em uma bandeira e fincar no meio do jardim da companhia. Mas o fato é que, invariavelmente, em algum momento você vai ter que se levantar e efetivamente fazer algo. O C-level vai ter que assinar um cheque e permitir que uma ação aconteça. Teremos que tomar e aceitar o risco de não dar certo.

Sua empresa precisa construir novos produtos, se aproximar de startups (talvez adquiri-las), fazer parcerias comerciais com um fornecedor que jamais seria homologado por não seguir 100% da cartilha de governança, liberar seus colaboradores para testarem novas ideias (aquelas que só nascem da cabeça de quem está no front) que não são possuem fit total com seu core business; e saber que eles vão testar, aprender, construir e testar novamente até terem uma radiografia completa da cabeça do seu cliente.

Essa é a única forma.

Pare de fazer outras coisas.

O Teatro da Inovação em 5 atos

Está em busca de resultados acionáveis para a sua empresa? Então minha dica é que você pare agora de seguir essas 5 rotinas corporativas:

1. Peregrinação religiosa ao Vale do Silício

Visitar startups e voltar falando sobre seus incríveis produtos e sobre fundadores vestindo moletom não vai fazer sua empresa mais inovadora. Quer ir ao Vale? Visite grandes empresas como a sua e pergunte como eles conduzem seus programas de inovação. O resto é firula.

2. Criar sozinho uma aceleradora interna

Quantos projetos efetivamente acionáveis surgem de aceleradoras corporativas quando elas são pouco estruturadas? Poucos, pouquíssimos, uma raridade a ser comemorada fechando a Avenida Paulista numa terça-feira de carnaval. Mas não se preocupe. Existe uma solução. Aproxime-se do ecossistema, tenha parcerias com agentes especializados em aceleração, não obrigue os projetos a se adequarem às suas necessidades ou a suas regras internas. E desconfie seriamente de um empreendedor que aceite isso.

3. Liberar calça jeans e camiseta

A prática é louvável, mas é consequência e não fim. O único impacto ao fazer apenas isso será reduzir a conta de lavanderia dos seus colaboradores (e talvez conseguir um “oba oba” em uma publicação de melhores lugares para se trabalhar). Mas inovação? Não, não. Esqueça.

4. Assinar a carteira de trabalho de alguém do ecossistema para liderar seus programa de inovação

Outra prática que é meio e não fim. Essa pessoa se destacou por onde passou? Terá mandato (e budget!) para aplicar suas ideias? Ou tem horário, bate ponto, pede head count, aprovação no comitê semestral, compliance, etc? Não crie mais um frustrado dentro da sua companhia. Ou dê carta branca ou conduza seu programa externamente.

5. Participar de seminários, webnários, ler todas as publicações do ecossistema

Conhecer é diferente de fazer. Menos informação e mais hipóteses validadas. Permita-se executar e errar rápido. Uma ideia vale zero reais, execução vale bilhão.

 

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26 de julho de 2024 – São Paulo